Memórias do Rio Itabapoana – 7

Arthur Soffiati

As intervenções humanas sobre ambientes necessários à saúde do manguezal do Rio Itabapoana afetam diretamente este ecossistema Estamos falando do mar, do rio e das formações vegetais nativas contíguas. Comecemos pelas ações no rio. Já no século 19, estava projetado um canal ligando um ponto do baixo curso do Itabapoana a outro, de modo a suprimir meandros e brejos, encurtando o trecho navegável. Este projeto aparece com clareza na Nova Carta Corográfica da Província do Rio Janeiro feita por Pedro D’Alcantara Bellegarde e Conrado Jacob de Niemeyer, publicada no Rio de Janeiro, em 1865, por Eduardo Bensburg. O canal também aparece no mapa da Província do Rio de Janeiro, que integra o Atlas do Império do Brasil, de autoria de Candido Mendes de Almeida (Rio de Janeiro: Arte & História, 2000). 

Com o fim de submetê-lo aos imperativos de atividades econômicas agropecuárias ou de domesticá-lo para não causar, com suas cheias, danos a núcleos urbanos, lemos em Exaguamento e Drenagem para Recuperação de Terras e Defesa contra Inundações em Regiões e Cidades Brasileiras (Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1949), relatório do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), que a representação deste órgão, no Estado do Espírito Santo, foi criada em 1944, de pronto executando obras em afluentes do Rio Itabapoana e no Rio Novo, com excelentes resultados para o aproveitamento de terras. A parte sul do Estado foi a mais aquinhoada pelo DNOS.

Uma planta sintetizando os serviços de engenharia hidráulica realizados pela Comissão de Saneamento da Baixada Fluminense, criada pelo Governo Federal em 1933, e por seu sucessor, o DNOS, até fins de 1950, mostra que o grosso das intervenções concentrava-se na margem direita do Rio Paraíba do Sul.


Nenhum trabalho está assinalado na bacia do Rio Itabapoana em sua vertente fluminense. O canal projetado não fora ainda construído.

Onze anos depois, o DNOS encomendou ao Escritório Hildalius Cantanhede Engenharia Civil e Sanitária Sociedade Limitada um levantamento do Vale do Itabapoana para fins de dragagem, retificação e sistematização, além de outras obras necessárias a sua regularização e a um melhor aproveitamento de suas águas e terras. Em suas 42 folhas na escala de 1:20.000, o manguezal vem assinalado nas folhas 1 (primeira parte da planta de conjunto), 2 e 3. Sem muitos detalhes, ele aparece sob a designação simples de mangue, principalmente no lado do Espírito Santo, onde, até hoje, apresenta-se menos danificado. Junto à foz, pela margem esquerda, foi registrado o canal capixaba do rio com o vocábulo gamboa, que significa braço remansoso.

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Memórias do Rio Itabapoana - 1

Memórias do Rio Itabapoana - 2

Memórias do Rio Itabapoana - 3

Memórias do Rio Itabapoana - 4

Memórias do Rio Itabapoana - 5

Memórias do Rio Itabapoana – 6

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