Consultando o "Atlas do Império do
Brasil", lançado por Candido Mendes em 1868, mapa correspondente à
Província do Espírito Santo, verifica-se que, a partir do rio São João, que faz
divisa entre as Províncias de Minas Gerais e Espírito Santo, o rio passa a
chamar-se Itabapoana, recebendo pela margem direita, como principais afluentes,
os rios de Santo Eduardo e de São Bernardo, já figurando nele um canal
projetado entre a foz do segundo rio e uma curva à jusante do próprio
Itabapoana. Pela margem esquerda, apareciam os rios dos Veados, do Jardim, São
Pedro e Muqui (ALMEIDA, Candido Mendes de. Atlas do Império do Brasil. Rio de
Janeiro: História, 2000). Curioso é que, examinando o mapa correspondente à
Província do Rio de Janeiro no mesmo Atlas, as informações mudam ou são
enriquecidas. Pela margem direita do rio em estudo, figuram como tributários os
rios do Ouro, da Onça, Santo Eduardo, São Bernardo e o canal projetado. Pela margem
esquerda, três rios maiores aparecem, mas apenas o rio Preto é nomeado. Figuram
as cachoeiras de Ponta de Pedra e do Inferno. Junto à foz, pelo lado esquerdo,
há o registro de uma lagoa sem nome no lugar ocupado outrora pela lagoa de
Morobá.
Um antigo dicionário de rios esclarece que ele banha os Estados do Rio
de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, sempre uma forma antropocêntrica de
conceber os rios e as lagoas, como se as unidades político-administrativas,
depois de fundadas, passassem a se beneficiar de um rio ou de uma bacia hídrica
que lhes seria posterior. Jamais se enuncia que as unidades administrativas e
urbanas é que se estabelecem às margens de um rio. No verbete, o dicionário
prossegue explicando que as cabeceiras do rio situam-se na serra do Caparaó,
com o nome de rio Preto, recebendo o topônimo de Itabapoana depois de coletar
as águas do rio Verde. Com curso de 264 quilômetros, dos quais 66 navegáveis
entre a foz e a vila de seu nome, corta solos cuja fertilidade é a melhor do
Estado depois da capital. Acidentado, em seu curso assinalam-se as cachoeiras
de Santo Antônio, Inferno, Limeira e Fumaça, esta última com 100 metros de
altura. Observa ainda que sua largura média oscila em torno de 65 metros, com
profundidade mínima de 1,80 m. Margeado por terras excelentes para o cultivo de
café e de cana, assim como para a pecuária, todo o vale é relativamente bem
cultivado e movimentado. Seu destino é o oceano Atlântico, com desembocadura
entre a lagoa de Morobá e a ponta das Arraias (ROCHA, João Clímaco da.
Dicionário Potamográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: s/e., 1958).
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*Arthur Soffiati é
Doutor em História Ambiental pela UFRJ
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