O centenário de Luiz Gonzaga


Às vésperas do aniversário de 100 anos do músico, celebrado na próxima quinta, um mergulho na vida e na obra do homem que se tornou o Rei do Baião
RIO - Quando Luiz Gonzaga do Nascimento era adolescente no sertão de Pernambuco, os moradores da sua pequena Exu embrenharam-se no mato com medo da iminente invasão da cidade pelo bando de Virgulino Ferreira, imortalizado como Lampião (1898-1938). Passadas algumas horas, a rigorosa Dona Santana ordenou que seu filho Lula fosse até a cidade checar se o bando de Lampião já tinha deixado os arredores de Exu. Corajoso e curioso, ele se deparou apenas com ruas desertas. Ao voltar ao local onde os moradores se escondiam, Lula resolveu pregar uma peça em todos. Descambou a correr, enquanto gritava: “Corre, porque Lampião vem aí para matar todo mundo.”

A traquinagem valeu-lhe um dos muitos pitos de Dona Santana, como o próprio Gonzaga recordaria em entrevistas, e revela desde quando a imagem de cangaceiro o fascinava. Ele iniciou a carreira de artista vestindo paletó e gravata. Na década de 1940, ao regressar do Nordeste após uma ausência de 16 anos, Luiz Gonzaga compôs com Humberto Teixeira “Asa branca” e optou por se apresentar com chapéu de couro e gibão.
O rosto redondo de Lula valeu-lhe o apelido de Lua, uma criação do violinista Dino 7 Cordas, popularizado pelos radialistas Ary Barroso e César de Alencar. 

Assim, Lua Gonzaga, um sanfoneiro humilde que chegou a ser proibido de cantar por sua voz estridente, recriou o modo nordestino de tocar sanfona. Com o que batizou de “Vira e mexe”, alcançou o sucesso popular e se tornou o Rei do Baião, pilar cultural nacional.
Gonzaga, que morreu em 1989, aos 76 anos, completaria 100 no dia 13 de dezembro. Ao subirem ao palco em show em homenagem ao centenário do artista, na próxima quinta-feira, em Exu, Gilberto Gil e Dominguinhos entoarão “Asa branca” ao lado de Daniel (neto de Gonzaga e filho de Gonzaguinha) e Joquinha (sobrinho do Rei do Baião), num encontro de gerações distintas, mas que comungam a tarefa de levar adiante um legado comum. “Aquele jogo de fole, o resfôlego da sanfona que todos fazem hoje no forró, foi uma invenção dele”, atesta Gil.

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